Os
pés que relaxam sobre a nuvem, lentos, repousam à mercê dos ventos. Um sopro
sibilante que às vezes, mesmo muito distante, arrepia todos os pelos, cada fio
de cabelo. Desperta o corpo, se levanta, revela infinitas penas que brotam bem
no meio das costas e se abrem num enorme par de asas profanas. Carregar asas assim
carece força sobre-humana. Mas voar... Ah! Voar sem medo, sem pudor, vale o
desafio, a dor, o amor! Vale conquistar o mundo e até se deparar com as mãos geladas
e o leve tremor dos lábios mordidos, avermelhados, de outro ser angelical. O
corpo alado pode agarrar o anjo que não voa, envolvê-lo sem pena no meio das
suas asas, junto ao peito, e mantê-lo assim bem abrigado, quente, embriagado, ambos soltos, relaxados.