Insônia

No escuro desperto, assim me acontece
De mim nada perto, você adormece
Penso intrigada, será que me esquece?

Me canso, anoiteço, repleta de plano
O dia tem seu peso, bem sei não te engano
Me sinto acanhada, então nem te chamo

Me lembro do beijo, lá dentro de um sonho
Já faz algum tempo, lembrar me disponho
Sei que nem é cedo, mas vou te mandar

Pensando contente, talvez de mim lembre
Sonhando acordada, vez em quando ou sempre
Tão logo amanheço e enfim vou contar.

Florzinha Miudinha

Flor de Pitanga miudinha
Tão grande coração, branquinha
Se o ar me escapa lá de dentro
A flor se faz brotar no centro
 
Flor de Pitanga pequenina
Oferecendo mel no fruto ácido
Do amor tão renegado e plácido
Vida que segue da menina
 
Flor de Pitanga em tinta branca
Ver de vermelha e amarela encanta
O sabor da cura na garganta
Risca do peito a agonia
 
Pinta sem pressa a utopia
Fala de escuta na amargura
Sorri Pitanga tão madura
A flor miúda da alegria.

Poema inspirado no ponto cantado de umbanda “pedrinha miudinha”

Descrição Experimental da Voz

Sai da boca generosa de um tom avermelhado
E no lábio de baixo, ao centro, um fino e vertical traço
A voz que vibra junto com o ar que é abraçado
Na garganta quando escapa lá do pulmão apressado

Sua voz é meio ligeira, muito quente, prateada
É segura, espontânea, ri, desprende a risada
Vai falando e a voz acende, tal qual uma luz transparente
O que sente, envolvente, pele, músculo, língua e dente

Uma canção rompe o peito e pode até ser fervente
Deixando uma voz quase trêmula, cantando timidamente
Se articula, dentes, língua, um som úmido, acolhedor
Vem com tanta energia que me soa animador

Sai de águas tão profundas em ondas de querer bem
Surpreende em aconchego essa voz que vai além
Dá vontade de ouvir, de lembrar, não ficar sem
Fecho os olhos pra escutar, forte voz que a Ira tem!