Envolvido, relaxado, o anjo em sonho e o corpo alado partilham asas, tecem nuvens onde possam caminhar. O ser que sonha encontra abrigo em ações minuciosas, espontâneas, cuidadosas... Furtivos gestos que transportam entre olhares, sobre um arco, por detrás da íris, ares, eros e a flecha que lançou. Tudo em si deflagra em brasas, flecha, arco e o arqueiro sempre alado, até mesmo o ser sem asas despe a sua carapaça, se liberta da couraça, amolece a armadura, se propõe ser terno e cura, porque mesmo sem procura já entende o que encontrou.
Fotografia 2 - Asas (movimento)
Os
pés que relaxam sobre a nuvem, lentos, repousam à mercê dos ventos. Um sopro
sibilante que às vezes, mesmo muito distante, arrepia todos os pelos, cada fio
de cabelo. Desperta o corpo, se levanta, revela infinitas penas que brotam bem
no meio das costas e se abrem num enorme par de asas profanas. Carregar asas assim
carece força sobre-humana. Mas voar... Ah! Voar sem medo, sem pudor, vale o
desafio, a dor, o amor! Vale conquistar o mundo e até se deparar com as mãos geladas
e o leve tremor dos lábios mordidos, avermelhados, de outro ser angelical. O
corpo alado pode agarrar o anjo que não voa, envolvê-lo sem pena no meio das
suas asas, junto ao peito, e mantê-lo assim bem abrigado, quente, embriagado, ambos soltos, relaxados.
Fotografia 1 – A Nuvem (silêncio)
Os pés que caminham sobre a nuvem, lentos, sentem cócegas com os afagos de algodão. Os pés quaaase flutuam, tocam assim bem de levinho os alvos novelos e, tão felinos, de repente sustam o passeio. Parecem empurrar delicadamente a nuvem... Que permanece com o tecido íntegro! Trançada como fios de cabelo entre os dedos. Após repentina pausa, a misteriosa silhueta deita e, vértebra por vértebra, o corpo serpenteia, se deixando transpassar pelos afagos de algodão. Faz cócegas, penteando cada pelo, soprada por algum vento, a nuvem toca assim bem de levinho até a raiz dos cabelos, emaranhada, se entrelaça desde os dedos, dos pés que relaxam, lentos.
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