Aqueles três pontinhos
retiSente
Aqueles três pontinhos
Espinheiro de Natal
O Fantasma do Espelho
Contra Ação - Relaxamento
Contração
Germinando
Repentinamente
Transbordar
Enigma para Dois Quartetos
A meia
Calafrio
É sobre viver
Ouvindo sussurros da fria ventania
Caminhando delicadamente
Os dedos ao longo da espinha
Subindo degrau por degrau cada vértebra
Enquanto a raiva da sensação
Domina
O medo de sentir, confunde, contrai, silencia
Cala! Frio.
Ensaio Sobre a Visão
Com a visão e com a vidência de quem enxerga muito além
Vi o essencialmente invisível em contra(sons) ventriculares
Eclipse
Apenas uma Mulher Talvez
Enquanto corre da incerteza com hora certa pra chegar
Mas de repente, minha gente, ela é apenas uma mulher talvez
Verde Folha
Por cair despercebida
Foi pousar entre muralhas
As mais resistentes, altiva
Sua rainha se banhava
Por se achar bem protegida
Deita a folha em seu ombro
Se transforma em serpente
Dentro d'água pelas pernas
Se enrosca docemente
Sobe, vai serpenteando
Mãos e braços da rainha
Pelo colo, em seu pescoço
Verde Musgo
Enxuga meu corpo úmido
Das lágrimas que correm feito rio
Gélidas, às margens do meu leito vazio
Envolve os cabelos com tecido claro
E é claro, devolve o brilho dos meus olhos nus
É luz!
Da mulher de veste verde musgo
Suntuosos colares escorrem sobre o peito
É também magia, rubras gotas guia
Poética para Rosário: Suspiro na Noite de Pingos
Poética para Rosário: Santuário
Poderia ser vermelha
Eu iria toda prosa
Acender essa centelha
Viajar nesse cometa
Segurando em sua mão
Visitar outro planeta
Não ligava para o Tempo
É só nosso esse momento
Pra viver sem correria
Eu faria um santuário
Transpirando em suas mãos
Perfumava esse Rosário.
Poética para Rosário - Quinto Mistério Gozoso: Perda e Encontro
A cada perda o espanto
Incandescente a lagarta
Voando com todo encanto
Escapo se aperta o cerco
Vou me perdendo em encontros
Ou vamos trocando a pele
Os pelos raspam na pelve
Traduz sua língua nos contos
Poética para Rosário - Quarto Mistério Gozoso: Apresentação
Entre gozos e mistérios
Devotada
Vou aqui tecendo fios
Da meada
Entre gozos e mistérios
Devo nada
Vou em ti fazendo trança
Nessa trama semeada
Entre gozos e mistérios
Metafóricas, caladas
Ímãs, polos, hemisférios
Em desordem coordenadas
Entre gozos e mistérios
E mistérios tão gozosos
Cunho na pele o rascunho
Dos seus versos prazerosos.
Poética para Rosário - Terceiro Mistério Gozoso: Nascimento
Poética para Rosário - Segundo Mistério Gozoso: Visitação
Na beira do dia
Leve trouxe mensagem
E nada escondia
Dama assim tão intensa
Na borda da noite
Me cantando em prosa
Sem medo de açoite
Tão longínquo caminho
Sinuosas miragens
Pares, duplas montanhas
Curvas tardando às margens
De esquina manhã
Recebido recado
Me encruzou a visita
Madruguei sem pecado.
Poética para Rosário - Primeiro Mistério Gozoso: Anunciação
Sonho
Onde entra o vento
Lento
Vento e voz
Encostam no tempo
Calçada
É bom se voltar pra dentro
Habitar no interior
Pois lá tudo é só paisagem
Sem lugar para rancor
Pé descalço em terra firme
Caminhar sem ligeireza
Passarinho voa livre
Nos convida, natureza!
O oposto é a cidade
Onde tudo é muito cinza
Tem cimento em toda parte
Gente rasa e ranzinza
Mas fazer o quê? Não posso
Me livrar desse destino
Quando tento me afastar
Mais parece um desatino
Então aqui vou vivendo
Pé calçado na caçada
Competindo com os carros
Um lugar nessa calçada.
A Última
Repare que o amor é bem servido
Só coma, não recuse a sobremesa
E cuspa, mas me deixe a vela acesa
A última a sair que lave os pratos
Limpar tudo e rasgar qualquer lembrança
No lixo jogar fora a esperança
A última a sair tire a aliança
Esquece o que mais pesa na balança
Aquece o coração gelado, a lança
Meteu tão fundo o dedo na ferida
A última a sair cuide da vida
Veneno na maçã toda mordida
Engole o beijo e o doce do café
Primeira nunca mais verão quem é
Desvele a cor e a dor dos corpos nus
Desencaixando as curvas que eram eternas
Da última a sair fugiu sem penas
Borrando, rejeitando a ingenuidade
Levantou voo, partiu, felicidade.