Verde Musgo

A mulher de veste verde musgo
Enxuga meu corpo úmido
Das lágrimas que correm feito rio
Gélidas, às margens do meu leito vazio
Sem ao menos ela saber...

Envolve os cabelos com tecido claro
E é claro, devolve o brilho dos meus olhos nus
É luz!
Da mulher de veste verde musgo
Suntuosos colares escorrem sobre o peito
É também magia, rubras gotas guia
Já me perdi nas contas do quanto me levou pra dentro
Sob o verde musgo jaz meu pensamento

É que essa mulher, ela nem sabe
Mas quem sabe entende
Que por não ser indiferente
Plantou seu olhar e fez brotar, enraizar semente
Cavou fundo em meu vazio
Desconfio que ela sente

A mulher de verde musgo veste o seu claro tecido
Descobrindo em minha frente o que me faz calar a alma
Até esqueço se estou a me dizer que eu devo ir com calma
Puro medo de doer

Porque a mulher de veste verde musgo
Tem uma beleza rara
Um olhar que nem de longe se compara
Aos tantos pares de olhos que já vi
E de tanto ver tudo virar cinza
De me perceber tão demasiada ou esvaziada à pinça
Ah! Mulher... Duvidei meu merecer.

Poética para Rosário: Suspiro na Noite de Pingos

Te vejo dormir, majestade
Seu corpo ouvi respirar
Escuto bem perto de ti
O vento, as folhas, o mar

O ar eu mirei em seu peito
Suspiro sem te acordar
Me deito juntinho de seu leito
Quieta pra não te assustar

Pingando a chuva, eu sem medo
Lá fora e dentro de mim
Rainha! És linda, percebo...

Vigio nossa noite, inda é cedo!
Soprando as folhas ao vento
Um pingo escorre pro mar.

Poética para Rosário: Santuário

Se sua flor fosse uma rosa
Poderia ser vermelha
Eu iria toda prosa
Acender essa centelha

De carona nesse rastro
Viajar nesse cometa
Segurando em sua mão
Visitar outro planeta

Cronos não se importaria
Não ligava para o Tempo
É só nosso esse momento
Pra viver sem correria

E se as rosas fossem muitas
Eu faria um santuário
Transpirando em suas mãos
Perfumava esse Rosário.

Poética para Rosário - Quinto Mistério Gozoso: Perda e Encontro

Em todo encontro uma perda
A cada perda o espanto
Incandescente a lagarta
Voando com todo encanto

Escapo se aperta o cerco
Se me encontrar eu te pego
Em todo encontro me perco
Noturnas flores eu rego

Vou me perdendo em encontros
Ou vamos trocando a pele
Os pelos raspam na pelve
Traduz sua língua nos contos

Rasteja serpenteando
Rezando ou riscando pontos
Desnuda, o véu jaz perdido
E diz amém transmutando.

Poética para Rosário - Quarto Mistério Gozoso: Apresentação

Entre gozos e mistérios
Devotada
Vou aqui tecendo fios
Da meada

Entre gozos e mistérios
Devo nada
Vou em ti fazendo trança
Nessa trama semeada

Entre gozos e mistérios
Metafóricas, caladas
Ímãs, polos, hemisférios
Em desordem coordenadas

Entre gozos e mistérios
E mistérios tão gozosos
Cunho na pele o rascunho
Dos seus versos prazerosos.

Poética para Rosário - Terceiro Mistério Gozoso: Nascimento

E se possível voltar pro útero?
Reencontrando a passagem
Com uma forte massagem
Relaxar seu coração

Contrair bem apertado
Já com o corpo relaxado
Nu seu peito emocionado
Desejando proteção

Escorrer por entre as pernas
Entrando nessa jornada
Tener el alma calentada
Sussurrar doce canção

Em sonoros batimentos
Sentimentos ritmar
Perpassando grandes lábios
Mergulhando mares vários
Pra no colo se encostar.

Poética para Rosário - Segundo Mistério Gozoso: Visitação

Me soprou poesia
Na beira do dia
Leve trouxe mensagem
E nada escondia

Dama assim tão intensa
Na borda da noite
Me cantando em prosa
Sem medo de açoite

Tão longínquo caminho
Sinuosas miragens
Pares, duplas montanhas
Curvas tardando às margens

De esquina manhã
Recebido recado
Me encruzou a visita
Madruguei sem pecado.

Poética para Rosário - Primeiro Mistério Gozoso: Anunciação

Não me provoca
Chama!
Acende a chama
Que me faça ascender
Pousar num galho
Sobre asas, sem querer
Pisando em brasas
Vou nas cinzas renascer

Cata minhas penas
Enfeita meus cabelos, assanha
Minha carne forte arranha
Sem as unhas, não me fere!
Já me sangra essa pele
Que já veio de lá pingando
Tropecei em suas palavras
Vim assim cambaleando...

Não me convida
Clama!
O calor de perto arde
Mas de longe sem alarde
Cê me viu, quer plantar folha
Voo com o vento, não me colha
Vem, me sopra, Ave Maria!
O que sobra? Poesia.