Umbilical

Não é preciso sorrir para o público
A arte agora atravessa um corpo cheio de dor
Minha dor só não é maior que a dor de minha mãe
E a dor de minha mãe só não é maior que a dor de minha vó
Que não tivemos a chance de conviver
Mas a dor de minha vó nem se compara com a dor de tantas outras antes de nós
Filha, a próxima nasce mais forte!
Não é preciso sorrir para o público
Não é preciso sorrir, tampouco chorar pelo leite derramado
Sangue derramado, umbigo, cordão
Não é preciso aplaudir no final não
Termina aqui, acaba com o silêncio
O fim já começou faz tempo...

O início se finda, mas o ciclo não se fecha
É o passado convivendo com o futuro que se faz presente
Nessa existência efêmera
Impressa na memória de cada pedra, plantada, pisada
Cinza, são cinzas
Poeira, pó
És barro, enterra, firme
Esbarro em terra firme
Raiz minha, nossa
Senhora!
Sua dor não é maior
Ela te fez mais forte.