O fantasma do espelho não consegue dormir.
Acordado e tentando sair do mergulho abissal no lugar mais sombrio de mim.
Lugar onde em algum momento sempre se acaba voltando...
Não é um lugar de onde se consegue sair facilmente, pois, na madrugada, escura, solitária, é um lugar familiar e é só MEU. Com todas as memórias mais dolorosas, mas ainda sim seguras. Não tem música, somente vozes já ouvidas, palavras proferidas por outras pessoas. É protetivo, porque as memórias, apesar de muito tristes, são reais, de quando deixamos de fantasiar ou acreditar em sonhos e nos deparamos com os fatos e pessoas como elas são de verdade, inclusive nós, então não há possibilidade de novas decepções nesse lugar. Não cabe o que nos fizeram acreditar ou o que gostaríamos que fosse verdade, cabe apenas desilusões, desenganos que, mesmo com tamanho peso, têm a beleza assustadora do que ou quem deixou de usar máscaras. O "abismo" não nos julga, nos puxa de volta, porque o mundo de fora é demasiadamente ilusório, com estruturas desgastantes. Contudo se eu não transitasse entre esses dois mundos, eu não teria os canais abertos para criar, escrever, compor, interpretar. O abismo, poderoso, contém as lembranças de quem em algum momento desiste de nos acompanhar, proteger e uma vez estando lá podemos SER sem medo de desagradar, se esconder, tentar respirar, fugir da rotina que nos sufoca e das coisas que nos obrigam a fazer, sistematicamente, nos roubando das outras que necessitamos visceralmente materializar!