De Todos os Santos

Em Kirimuré-Paraguaçu nasci
Sou filha da terra, da água, do mato
Do ventre da índia o fruto bendito
Eu canto uma reza, meu pai é cristão

No barco europeu as vozes de Angola
Tocavam, dançavam, lutando aprendi
Cantar ladainha, a chula, corri...

Orquestra Castro Alves

Oca, habitação típica dos povos originários do Brasil, palavra de origem tupi-guarani. É erguida coletivamente em alguns dias e possui grandes dimensões, chegando até 40 metros de comprimento, isso porque várias famílias moram numa mesma oca. Com estrutura bastante resistente, construída com bambus, troncos de árvores e coberta por folhas ou palhas, a oca representa uma tecnologia ancestral, apropriada para o clima da região, não desabando com fortes chuvas ou aquecendo demasiadamente com o calor, além de utilizar materiais orgânicos na sua confecção.

Uma oca vem sendo construída com a participação e orientação de vários(as) integrantes do NEOJIBA. Apesar de suas famílias não estarem completas ainda, dentro em breve essa oca será grande, com todos os instrumentos necessários, pois é experimentalmente pedagógica. Seu nome? Orquestra Castro Alves. Não somente por lembrar na história do Programa sua primeira morada – o importante teatro de Salvador, situado em frente à Praça Dois de Julho – mas por homenagear também um dos maiores nomes da literatura brasileira: o baiano Antônio de Castro Alves, "o poeta dos escravos", do povo, da liberdade.

A OCA sinfônica é jovem!

Como escreveu Jorge Amado:
"Seja onde for que haja jovens, corações pulsando pela humanidade, em qualquer desses corações encontrarás Castro Alves."

E no coração de Castro Alves certamente encontramos música.


Novembro de 2009
(Argumento para o "batismo" de uma das orquestras do Programa NEOJIBA)

Ijexá

Dentre os(as) africanos(as) trazidos(as) para o Brasil ao longo da primeira metade do século XIX estavam os(as) que falavam yorubá. Estes(as), chamados(as) nagôs na Bahia, vieram do Sudoeste da atual Nigéria e foram as maiores vítimas do tráfico transatlântico nos anos que antecederam sua proibição definitiva, em 1850. Os(as) nagôs alcançaram a marca de quase 80% das pessoas africanas escravizadas em Salvador na década de 1860.

Em sua viagem forçada os(as) falantes do yorubá não trouxeram bagagem, mas nem por isso esqueceram na terra de origem suas culturas, danças, músicas, cosmopercepções etc. Uma das cidades mais tradicionais de sua história é Ileṣá, que nos tempos do império chegou a ser capital do reino de Oyó. A cidade fica situada no estado de Oṣún, sudoeste da Nigéria, e é a maior dessa região.

Dentre os tesouros trazidos com o povo conhecido como nação Ijexá está o toque homônimo que na Bahia está presente em religiões de matrizes africanas, nos afoxés e em diversas canções da música popular brasileira. O significado literal de Ileṣá, de acordo com linguistas, seria "terra escolhida", ile (casa ou terra) ṣa (escolher).

O ritmo ou gênero musical, bem como a dança característica, é repleto de energia ancestral e toda essa “baianidade nagô” está representada também na canção de minha autoria intitulada Ijexá. Sua estreia, com orquestra e coro, arranjo de Jamberê Cerqueira, aconteceu no dia 21 de outubro de 2012 na sala principal do Teatro Castro Alves, durante as comemorações dos 5 anos do NEOJIBA, composta especialmente para a ocasião.


A praça é do povo
Como o céu é do condor
Declamava Castro Alves
Na antiga Salvador

Seu coração baiano
Cantava em liberdade
Hoje o nome do poeta
Volta aos palcos da cidade

Castro Alves vem tocando
Sinfonia com fulgor
A Orquestra é dos jovens
Como o céu é do condor

Sua independência
Nossa terra não perdeu
Com a Orquestra Dois de Julho
A primeira que nasceu

Quanto sonho, tanta luta
Nós ganhamos muita glória
Roda o mundo a Yôba
Semeando nossa história

Dois de Julho, Castro Alves
Mais orquestras vão chegar
A Bahia está em festa
Parabéns ao Neojibá!