Calêndula

Nenhuma resposta é precisa
Mas a língua entendida
Cálida

Para cada palavra perdida ao sabor da boca entreaberta
O olho faísca, o espelho na dúvida cai despedaçado
Tal qual a margarida em mão enamorada
Árida

Que mal me quer quem me quer bem?
Amarga ri da questão
Cai despetalada
Pálida

Renasce flor no chão.


Aiyê

O céu da Bahia existe
Nas ruas e praças, amado
É o mais belo ainda, resiste
Irrompe a manhã, rio dourado

Bem negro, é raro presente
Repleto de paz vem sem mágoa
A voz tem um timbre ardente
Percute tão forte, deságua

Seus braços, seus pés compassados
História e magia percorre
Trançados, panos transpassados
O mais belo rio em mim corre

Será eu, você? Que beleza!
Nós dois somos da Liberdade
Dançar todos vão com certeza
Cantar sempre o Ilê na cidade.

Rua Sem Começo

Numa rua sem começo
Foi cantar um passarinho
Que voou querendo pouso
Cansado de ser sozinho

No meio da rua encontra
Os versos de um trovador
Se dizendo apaixonado
Querendo ser seu amor

A paixão que nem é cega
Passando sem perceber
Espantou o passarinho
Porque bicho não quer ver

E se quer respeita o amor!
Se vem pássaro, ou jasmim
Se é poeta, gente, flor
Importante é não ter fim.

Rua Sem Fim

Se está apaixonado
Só o tempo vai dizer
Desconfio da paixão
Que passa sem perceber

Numa rua sem começo
Foi cantar um passarinho
Perdido, cheio de pena
Sem meio de achar seu ninho

Sem meio e sem começo
Do começo ao meio, enfim
Confio mesmo no amor
É rua que não tem fim.